segunda-feira, 31 de março de 2008

Conversa corriqueira de fila de supermercado...

I ATO

Fila de supermercado

Mulher 1: ( colocando a mão na barriga ) Aiii to sentindo um vaziooo....
Mulher 2: Isso é Sartre.
Mulher 1: Quer dizer que to tendo uma crise existencial?
Mulher 2: É só comer que passa...
Mulher 1 come mulher 2

II ATO

Mulher 2: (colocando a mão na barriga) Sartrezinho é meu filho, já já vou desovar...
Mulher 1: Quer dizer que Sartre não passa de um bom caviar?

A luz do caixa se acende e elas vão cada um para um caixa

fim de noite vazia

Uma mesa. uma cadeira. uma cerveja. um cigarro. um cinzeiro. um cigarro. um abajur. um vaso. quatro flores, melhor três. Hoje sou um número ímpar... eu. eu subjetividade. eu me projetando. quero ser preenchida... Alo? Alguém ai? Eu me respondo... Há três cigarros esperando para serem fumados. três copos a serem terminados.......... uma cadeira vazia a minha frente... chega de números ímpares, alguém pode se sentar por favor?

segunda-feira, 3 de março de 2008

A história do ganso empapuçado

Sou o ganso chato da fazenda que as crianças correm atrás com suas pedrinhas achadas no caminho, elas jogam com a malicia da criança que quer ver o ganso ferido sangrando sem utilidade, sem janta, sem proteção, sem defesa pessoal. O bisavô grita para que elas parem, o jantar é essencial para aquela família que se reúne aos domingos para beber, jogar e brigar. O ganso caído no quintal é o mesmo saco de cimento que servem como tira gosto do jantar. Todos perguntam o que é, e o ganso agora se torna um ser de status “Foie gras” dizem fazendo biquinho, sem saber a crueldade diária que o animal passou. Um tubo de 40 centimetros é enfiado goela abaixo até chegar no estomago, onde um motor ajuda a empurrar 1 kg de comida gordurosa. Mal sabem eles que o que estão comendo é um fígado com 10 vezes o tamanho original, um fígado doente do animal que teve a membrana celular hepática rompida.
Agora eles comem fazendo o processo inverso, admiram o ser que no vaso sanitário é esquecido e descartado como dejeto fedido.

Quem sou eu

Quem sou eu... a pergunta que todo o ser humano se faz e não obtém respostas. Na minha curta vida tenho me perguntado sobre, mas o constante passar dos minutos não deixa concluir o meu vazio existencial. A cada minuto um novo ser surge diante de mim... sou neurótica, sou defensora dos fracos espertos, os burros deixo para outro. Sou da família mesmo sendo a estranha no ninho, sou dos amigos, da amizade instantânea, da mesa de bar. Sou raiz, sou pólen. Sou o eco da risada fácil. Sou uma conservadora liberal, ou uma liberal restritiva. Sou das exatas, gosto da química. Sou a insegurança da pergunta do ator perante a vida. Sou um raio de sol que atravessa a cortina pela manhã. Sou o cão de caça, o cão de guarda, o cão selvagem, o cão bravo do vizinho ao lado, o cão mimado e domesticado com seus laços cor de rosa e seu perfume de pet shop. Sou a fronteira dos estados, a sublimação da matéria. Sou mãe mais que filha. Sou o dinamite sem pavio prestes a estourar. Sou um animal gordo na água fria que desliza entre banhas e cores. Sou o conflito do paradoxo, sou a junção dos minutos, quero todos agora nesse breve minuto que se encerra. Agora sou um ponto final, se fosse virgula o texto seria outro.