sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Vai menina
             Para Ana Larousse

Sardas palavras saiam dela

Já não havia mais espaço
para guardar canções

O violão sangrara ruivo
depois da última nota

Juntou-se a nuvem de pássaros
que voavam para o sul

E lá acalmou seus cachos inquietos
desencaracolando os sentidos

Seu peito voltou então a se debruçar
sobre o violão
um novo espaço para preencher

Tomando chá na folha em branco
a tranquilidade deixou de ser um peso




segunda-feira, 25 de novembro de 2013

desabafo.agosto.saopaulo

Estou num momento de quase sem ou sem definição de quem sou, me amo, me odeio, entro em círculos viciosos destrutivos bizarros, tomo um ar fora dele e volto... passeio pela cidade e minha cabeça reflete a imagem dos meus pensamentos, a cidade revela os meus mais confusos pensamentos, tem tudo aqui agora, meus pensamentos são todos seus, meus agora. a arquitetura da cidade é a mesma dos corpos, grandes, pequenos, arrojados, redondos, quadrados, sujos, com sol, com manchas. sento num banco de praça e fumo um cigarro, olho pra frente está tudo ai, árvores, crianças, prédios, história, estórias, qual seria a ficção de mim, e a realidade de mim? meus círculos autodestrutivos parecem vir apenas para deixar a rotina mais interessante, mas não, ela destrói a rotina, o bom que teria na rotina, e o ruim da rotina piora, corto os cabelos, faço uma viagem, converso com outras pessoas, na maioria das vezes me sinto ridícula, penso se há alguma outra forma de me expressar, ou de não enlouquecer. vontade de cosntruir um novo eu nem que seja me utilizando de uma ferrenha ficção, que enfim acreditada piamente possa se tornar uma realidade, alguém quer ouvir? posso contar que sou amarga, ou que sou muito feliz, que acredito em vidas passadas, horóscopo ou que sou agnóstica.isso se aproxima de algo que tenta ser uma realidade. não é também, mas hoje quero ser. algum estranho por favor entre nesse quarto de hotel e olhe para a minha cara, ela ta se distanciando de mim. pintar novos olhos no lugar destes que se apagaram. pedir para merecer mais, eu mereço mais, qual mais? coma minha buceta e me faça gozar, jogue ácido nas coisas e espere a nova forma vindoura.

terça-feira, 1 de outubro de 2013

Coreografia

- Bandeiras são coreografadas.
- Bandeiras?
- Ao vento.
- Não entendi.
- Coloque três bandeiras lado a lado e o vento. Elas vão ficar bem iguaizinhas voando.
- Mas ai não é coreografia, é só sincronia.
- É coreografia de coisa.Você pode escolher colocar juntas e um único vento e ai da-se a coreografia para elas. E
pode ser um acaso também.
- Mas não tem o atributo de um movimento descrito e reprodutível.Tem muito acaso numa construção coreográfica, mas
se o acaso é a totalidade não pode ser uma coreografia, porque coreografia é controle, é partitura de movimento.
- Só colocar em cena, ai é.
- Não necessariamente, porque o máximo que você tem é um movimento de corpos em sincronia, mas isso não é um
pressuposto coreográfico, você pode ter coreografia com ou sem sincronia, o que importa é que o movimento tem uma
partitura, independente de como um se relaciona com o outro.
- Mas se você partiturar as intervenções que promovem o movimento, ai é coreografia?
- E pedir pras bandeiras repetirem aquilo?
- Como a abertura do rá-tim-bum.
- Mas ali não é acaso, ali é física mecânica pura.
- Eu não to falando mais de acaso.
- Ali é partitura pura, baseada nas leis da física moderna.
- To falando de partiturar as intervenções.
- Sim, mas não com bandeiras ao vento.
- Tem bandeiras ao vento no rá-tim -bum.