sábado, 22 de setembro de 2007

Esgrima

No momento jogo esgrima, a luta acontece... eu pareço vencer sempre... mas levo uma espadada no lugar mais sensível, perco a luta. O coração aparece mutilado na tela do cinema, um coração de boi que se desmancha em veias estúpidas, a primeira espadada é a que mais dói, de repente não consigo me mexer. Sou agora Jesus na Pietá, derramada, frágil esperando consolo de algo maior.

Ossos Maleáveis

Estou no mesmo lugar que um dia estive com você, talvez para saber que tenho pernas e que posso caminhar pelos mesmos lugares. O gosto é outro, já não há luz como havia, mas é o mesmo lugar. Não sou uma barata, não vou deixar que o caldo verde derrame. Quero gozar assim como gozei um dia. Quero estar presente mesmo que a ausência exista. Quero concluir um ciclo. Esgotar, preciso esgotar, ver paredes, torná-las úteis. O estar vai continuar. Paredes tortas fazem parte, vou me adequar a elas, nem que eu quebre meus ossos, vou triturá-los. O globo vai continuar rodando, pois os espelhos existem. Tem que refletir!

retroprojetor...

Não passo de um retro-projetor velho e empoeirado que ficou esquecido no canto de um depósito. Agora passam slides outrora felizes que deixaram saudades. O corpo ficou mirrado, seco, desnutrido. Porque não posso apenas botar fogo em tudo e deixar o tempo levar. O frio que me assola agora são cinzas que queimaram a ardente junção dos fluidos. Vou dinamitar as lembranças e com os destroços sorrir, preciso gastar o sorriso. Vou patinar em cima de tudo até chegar a ser finito o caminho trilhado anteriormente.
Os olhos se olharam profundamente antes de se cristalizarem em olhos de bonecas velhas.
Vomitar, quero te vomitar, minha gastrite dói, não posso te agüentar no meu estômago, pesou demais. Preciso de um Engov.
As camas sentem o peso, o cheiro e a união sem se preocupar com o envolvimento alheio. As camas não morrem.
Eu corro, corro para sentir que tenho pulmão e pernas, e não apenas um coração que me constrange.

Festa de São João

A luz que brilha em seus olhos são de um outra fogueira. A festa de São João acabou e os balões destruíram tudo. Mas eu tenho uma pamonha!

Placas.placas.placas

Cansei de placas, elas servem para ditar regras inúteis que pressionam o ser. Quero placas apenas no meu coração para ele obedecer direitinho as regras de transito e não se machucar na primeira curva.

Coração Feijão

Um coração é capaz de diminuir e chegar a um tamanho de um feijão, quando isso acontecer você ficará sem ar e com isso não haverá ar para vibrar suas pregas vocais, silencio. Quando tudo estiver acontecendo respire fundo, até que o coração como uma boneca inflável voltará a ter forma. Ficara lá, parado, cumprindo seu papel de bomba, pode matar. Se o meu coração fosse um relógio o tic tac me faria melhor do que qualquer ar que infle qualquer borracha inútil.
Mais um dia vazio apesar da multidão que me cerca. Nem o sol consegue preencher o lugar que você deixou, a sua sombra ainda está presente no meu corpo. Preciso de asas novas, preciso de um chão de pedrinhas, preciso desviar a dor, quero cortar meus pés, pois minhas costas não conseguem mais carregar o peso das asas quebradas.

Banquete Solitário

Meu melhor companheiro o sol, ele esquenta o corpo que já não consegue irradiar calor próprio. Vou me confessar e esperar que ele vá até você levar minhas veias entupidas de caldo grosso e negro que você deixou em mim, faça uma sopa e engula cada resto meu para sentir o que me fez. Seu corpo vai perder a cor e aos poucos vai se sentir como o resto de comida do banquete principal do gigante solitário de João e o pé de feijão.

Buraco

Minha vida é um eterno rombo, caio no buraco de Alice e passo por figuras estranhas que vão tirando minhas roupas, quando finalmente fico nua começam a me bater com uma raquete de matar mosquitos, sou um inseto frenético tentando fugir das palmadas da mamãe. Pelo menos o homem do saco não estava ai dessa vez, morrer por asfixia é algo realmente sufocante, os poros não são o suficiente para penetrar o ar, melhor ser anfíbio, de asfixia não morro.

Sufocamento

Sinto como se as células não estivessem sendo todas preenchidas. O ar entra pela metade, fica entalado sem conseguir nutrir o resto do corpo. Ainda tenho uma parte viva, o esôfago, o resto está se deteriorando a cada minuto. Acho que preciso de mais alimento, não posso deixar que as bactérias façam um banquete! Deixe que elas comam esterco, não vou ser resíduo. Nem que eu me perfure e faça o ar entrar por um lugar estranho que consiga se adequar para que todas as células se tornem adiposas.
Esquisito agora pensar que quero estar sozinha no meio do baile de máscaras, sou a única que não me cubro e assim olhares ocultos me perseguem. Tiram - me para uma dança, mas o salto não está firme para me segurar, então me jogo em braços pedintes esperando que me segurem sem exitar em me desequilibrar. Os holofotes brilham muito e me cegam, já não sei em que colo estou. Busco insistentemente pelo colo de minha avó, algo confortante que estenda a mão para me enxugar uma lagrima. Eu no vestido de gala me perco em meio aos tecidos que cobrem minhas pernas magras e secas, como velas de sete dias derretidas acesas orando por algo que ainda não sabe. Sou leprosa, o sorriso escorre de minha face feito uma montanha russa desnorteada procurando a partida inicial. Meus dentes caem e não consigo segurar meus lábios, pareço um bocal de lâmpada sem luz. Para rosquear vire para a direita, mas verifique antes se a lâmpada não esta queimada ou se a afiação esta com mal contato. Cuidado para não tomar choque, minha boca ainda pode ser letal.

Esteiras de produção

Os seres humanos são descartáveis, hoje o mundo é instantâneo, as relações se fazem e se desfazem muito rápido. Sinto-me agora um miojo que foi feito e devorado em menos de 5 minutos. É uma pena que demoro para digerir, minha digestão não passa de um processo indignado com o fluxo do universo, enquanto tudo passa eu continuo parada tentando entender porque sou uma mercadoria vencida. Porque passei do prazo de validade se ontem mesmo eu estava em todas as prateleiras das lojas populares? Quero entender quando isso ocorreu, foi com o fordismo? Com o Taylorismo? Se foram eles que fizeram isso eu só lamento porque eles não ficaram aqui para ver seu corpo se transformando em plástico barato. Queria que esses idiotas tivessem ficado aqui para ver como é bom passar em cima de uma esteira onde o primeiro que te colocou um olho não vai te ver pronto quando outro te colocar um coração. Sou uma bonequinha nua de plástico com o cabelo loiro e olhos azuis que em pé abre os olhos e deitada fecha. Me deixe deitada, não quero ver quando serei entregue na mão de uma criança no natal e no ano novo ser jogada fora com outras mil bonequinhas loiras. Permanecerei na lixeira vendo o mundo correr até que me derretam e me façam novamente, agora como um carrinho que o menino nem olhará, o ferro é melhor! Mas é descartável da mesma maneira.
Por favor, alguém me ajude a parar a esteira antes que seja tarde e o mundo se descarte em botões, alavancas e sistemas de produção.

Estreito Caminho

Sem olhar para trás se foi caminhando pelo corredor que o destino traçara, os pés firmes e a cabeça como um balão de gás segurada por um fino e delicado fio, fio delicado que suportava uma carga pesada de... de... gás? É só isso mesmo? O néon cintilando na parede te mostrando a saída, saída do lugar de transição, foi-se a escolha, a partir daqui há só uma via, é seguir o néon que já está desgastado, apagado e melado, o mel que se constitui de perda, promessas e esperanças. Esperança... a ilusória tristeza de algo melhor. E quem ficou antes de entrar no baile de máscaras, e quem ficou sem máscaras? Coitadas... o saco de pão pode servir para se esconder ou para preencher, preencher o vácuo que ficou entre o baile e a noite não construída.
A caminho do baile passa devagar por janelas que gritam adeus, janelas que falam sem sentido, sem querer ver o outro lado, janelas que agora se lacram para não mais enxergar o tamanho do corredor escuro e cheio de limo. O cuidado para não escorregar é grande, a cada passo uma nova organização dos órgãos para segurá-lo, para dar equilíbrio ao novo ser que se faz a cada passo seguinte. E procura apoio, e procura hastes, mas o que achou foi uma alavanca que sem querer puxou e o fez cair num calabouço que o deixa preso e quente como a caixa de fósforos que esqueceu em meu quarto a noite passada.
Acende um por um para conseguir enxergar, risca o primeiro e vê uma parede vermelha com óleo escorrendo formando uma figura bizarra que se aproxima de um corpo de mulher nu com asas quebradas, o fósforo queimou até o final. Risca o segundo, apagou. O terceiro, apagou. O quarto fósforo riscado com cautela durou um pouco mais que três segundos, o suficiente para observar cordas jogadas num canto. O próximo durou até o final e pode observar bem o tamanho da ajuda que viera. Chegou a hora de salvar-se. Apanha a corda ao lado com as mãos suadas e trêmulas e não sabe direito o que fazer com tamanha ajuda dos deuses, grita apavorado por Prometeu “Quero a consciência dos deuses e mais três metros de intestino”. Prometeu ouve seu chamado e traz apenas o intestino, alegando que o fogo se apagou e vai embora. Ele começa a escalada pelas paredes que teimam em enterrá-lo, a mulher de asas quebradas o ajuda tentando voar para levá-lo de volta ao corredor. Muito esparadrapo, cola e band-aid em suas asas as fazem voar de forma que o leva às alturas, em seguida ela cai morta com as asas sangrando.
Ele, ao chegar exausto e faminto come todos os dejetos do intestino. Assim que se sacia, se arrasta para a saída onde uma sirene de ambulância avisa que o fim está próximo. Já está da cor do solado de Hitler, ao chegar ao fim do corredor, a ambulância o leva para o campo de concentração.