sábado, 24 de novembro de 2007

Divagações da noite do dia 24 de novembro de 2007 no Café do teatro

O êxtase da comunicação se dá pela performance do ouvinte!

Estou grávida de mim mesma, estou me re-gerando, vou renascer!

Por que só falo de amor?

Cada um com cada qual
e
Cada qual com cada um!
ou seja,
Cada macaco no seu galho!

Viver em Curitiba é estar encubado em seu próprio peido, você sabe que é ruim, mas acaba gostando de vivê-lo sozinho!

A qualidade da refeição é como um durepox engolido por um mendigo!

Exercício para inspiraçao: (Orientações)
1. Brinde com um amigo
2. Apagar no mínimo dois cigarros no Café do Teatro
3. Converse com um cigano
4. Sempre PEÇA mais uma, e assista mais uma PEÇA amanhã
5. Ligue para: pi pi pi .. acho que está ocupado

Se eu bato palma vou a luta...
é um eterno estar a procura.
Biscate... ser ou nao ser?
É dar sem receber...
bisca, cisca, cata uma minhoca.
É como um cachorro que procura o perfume...
Biscatessszzzzsss é... jogar milho aos pombos,
da mesma forma que alimenta, é alimentado.
Sabendo que tudo é tesão e com-paixão.
Tudo depende do ponto de vista...
Nessa lista, há quem invista!

Rubia Romani, a escorpiana!

Airton Rodrigues, ou com z se preferir, o sagitariano!

Criação Colaborativa de seres que insistem em beber no Café do Teatro!
Rubia, Airton, Carlos e Ricardo.
Gostaria de ser um jacaré, me sentir amada nem que seja pelos passarinhos pelo o que tenho pra dar, mas também poder abocanhar o que eu quiser!
A insensibilidade matou o leproso.
Te odeio porque tudo que olho se transformou em água suja na calha... levando folhas, galhos, lágrimas e o meu peito!
Piiiiiiiiii. vazio. vazio. vazio.
Meu corpo aterrado..... me ajuda, me tirem daqui!

Quero sexo com qualidade, quero amar... dificil... possuo um...! Foi embora!

Gostaria de ser uma mulher elástica, se algum cientista estiver lendo isso por favor entrar em contato. Meus membros iriam até a lua, com certeza passaria uma boa noite com o coelho! Mas minha cabeça ia continuar no buraco que o avestruz se sentindo constrangido com seus pensamentos fez, eu ia ficar esperando aquela pessoa que chamam por aí de príncipe encantado. Se me aparecesse um sapo agora eu o beijaria, é melhor acreditar que ele se transformará em um abraço confortante!

domingo, 11 de novembro de 2007

DELETE!

Sim, chegou a hora de te deletar, não posso mais ser um zumbi, não posso mais viver sem sombra,não sou o Peter Pan, já disse que não posso voar! Depois de deletado vou para a “Terra do Nunca”, deixar tudo o que sinto, isso não pode ser esquecido, é raro em seres humanos, mas também não pode mais fazer parte de mim, preciso ter uma perna só minha. Já emprestei por anos minha alma, ela precisa voltar a fazer parte de alguma parte que seja minha.
Então chegou a hora...
(Ele está dentro de uma bala de revolver calibre 33)
- Está preparado?
- Não
(A luz se apaga)
- DIGA 33, 3 VEZES PARA EU SABER SE ESTÁ AI!
- ok, 33 33 33!
Observo tudo da cabine do seu lado esquerdo, meu olhos já estão do seu tamanho, apenas se preparando para o momento final.. o RALO!
- aperte o cinto!
- apertou?
- não...
- anda, não se pode demorar todo o tempo do mundo para deletar uma pessoa, há uma fila de pessoas querendo ser deletadas! E corre o risco de desistir... já assinou o contrato na sala anterior?
- sim
- então não reclame, os últimos 6 anos de sua vida serão apagados! Pronto?
- to com medo!
- não tenha medo, você escolheu, já assinou. Quer desistir?
- não.
- então pense em tudo o que viveu nesses 6 anos, é muito pouco perto dos 50, 60 ou 70 anos que você ainda vai viver.
- apertou o cinto?
- não.
- pegue a fivela e aperte na largura da sua cintura, depois feche o cinto, em seguida coloque as mãos ao lado do corpo que elas serão presas automaticamente.
- ok?
- ok.
- a luz vermelha começará a piscar... agora! CONTAGEM REGRESSIVA! Conte comigo... 10
- 10
- 9
- 9
- 8
- 8
-7
- 7
- 6
- 6
- 5
- 5
- 4
- 4
- 3
- 3
- 2
- 2
- 1
- 1
- ta chegando!
- 0
- 0
BUUUMMMMM! BYE BYE HONEY!

Agora começa um novo momento, o de aprender a andar, comer, se vestir, sorrir até querer deletar o próximo... realmente a vida é repetitiva, como já me disseram nada é jogo é simplesmente a vida! Citações a parte, temos que ser práticos na porra desse mundo, descartar possibilidades, deletar pessoas e viver como maquinas, mesmo não sendo... SEM DOR SEM SOFRIMENTO

MADA

Boa tarde! Meu nome é Rúbia Romani.
Hoje, só por hoje não esfreguei minha cara no chão, na lama, apenas por hoje não comi merda e nem chorei sangue coagulado, só por hoje não habitei a sarjeta.
Por hoje apenas não vou contabilizar um dia de derrota na lista dos corações moles, mortos ou feridos.
Por hoje apenas comprarei durepox e tentarei viver com os cacos do meu, do meu... isso mesmo...!
Só por hoje terei um marcapasso que não se comove, mas que cumpre sua função vital, para que sentir? O que importa é viver! Vou estar viva pela maquinaria sem me preocupar com infartos, o máximo que poderá acontecer é uma peça ou outra dar problema... de fácil resolução.
Hoje marcarei minha cirurgia de coração, vou trocá-lo por uma calculadora. Serei a partir daí racional, poderei contar sem erro o tempo e as relações humanas, trabalharei com metereologia sem olhar para o céu, contarei as estrelas sem olhar para o céu, imaginarei formas variadas de nuvens sem olhar para o céu; farei tudo com a tecnologia, dizem que ela funciona, não precisa sentir!

segunda-feira, 29 de outubro de 2007

Tempestade num Red Label

O tempo passou, mas minha gastrite ainda grita que você esteve aqui. Tudo foi tão pouco e notável que lembro de uma primeira gota de chuva na testa; pequena, passageira, mas o suficiente para o alerta da tempestade. Muita água veio, molhou, lavou, mas, também provocou enchente e deslizamentos de terra, e só depois que passou é que pude perceber o estrago de um pingo de chuva na testa. Reconstituir o barranco é uma tarefa difícil, o estrago foi feito e os barracos destruídos, agora restam indigentes desabrigados que vagam como zumbis entre os carros da avenida principal estendendo as mãos sujas de terra vermelha. Alguém, por favor, dê um lencinho úmido para o menino limpar a mão, com as mãos sujas será impossível conseguir um trocado. E eu fiquei vendo tudo de dentro do táxi amarelo que apareceu no momento em que a gota de chuva caiu sobre minha testa. Agora, os pingos na janela não me permite ver o caos que está lá fora, sinto apenas o ar condicionado e escuto buzinas dos carros alheios. Um sutil raio de sol corta o carro ao meio chegando à minha testa, e assim percebo que a chuva não cai mais lá fora. Então, abro a janela com a ingenuidade de tomar ar puro, até que olho para o pingo de chuva na testa do menino órfão, e como um cão eu lambo suas mãos vermelhas e como um cão faminto ele me olha e como um cão faminto lambo-lhe as mãos. Pronto menino, vá pedir esmolas com as mãos limpas, mas lembre-se, hoje eu lambo suas mãos, amanhã alguém te esfrega, amanhã alguém te espreme, amanhã alguém te mata... então, vá caçar borboletas elas vão te levar para outro lugar menos vermelho, menos chuvoso.
O táxi continua a corrida para a casa, minha boca vermelha reluz no retrovisor do carro. Quer um pouco do meu batom? E o taxista me beija, apenas o batom vermelho, a pele não sente nada. Chego em casa e observo que me deixaram flores vermelhas... o cartão? Minha gastrite grita novamente na esperança de que elas sejam suas... mamãe lembrou do meu aniversário e minha gastrite volta a me lembrar que aqui você não está mais. Resolvo pintar minhas unhas de vermelho, fico olhando para as flores vermelhas e me pinto, um incentivando o outro, até que tudo vira um suco espremido que agora tomo com ódio esperançoso. Pego a caixinha de recordações e jogo seu perfume, e assim faço um prato flambado, as chamas parecem vir de um vulcão, aquele mesmo que era ativo, mas que agora está extinto. O seu cheiro toma conta de toda a casa e corro para abrir as janelas, vou me despedindo de cada gota sua que vai se esvaindo como a ampulheta decorativa na sala de estar da nossa... da minha casa, tudo está chegando ao fim e abro um Red Label para brindar a última gota, aquela tão sutil como a primeira gota de chuva na testa e que tem o mesmo poder; de alertar algo que acabou e algo que vai começar.

sexta-feira, 26 de outubro de 2007

PARABÉNS!

26 de outubro de 2007

Meu aniversário de 22 anos...
Parabens você ganhou de presente:

* um par de pernas tortas
* uma gastrite no lugar do estômago
* olheiras e bolsas inchadas embaixo dos olhos
* um infarto no lado esquerdo do coração
*Um nó na garganta


Hoje eu queria que um super-homem aparecesse, aquele mesmo das telas de cinema... nada de príncipe encantado no cavalo branco, apenas um super herói que me resgatasse deste planeta e me levasse para conhecer as estrelas, e que depois dessa viagem ao voltar para a terra eu encontrasse um outro lugar, com menos bigornas e que eu não lembrasse de nada que tivesse me causado dor.
Alguém por favor pode ajudar aquela menina?
Alguém por favor me ajude a entender que porra eh essa de roda da fortuna.
Alguém por favor me ajude a aceitar que a moeda tem dois lados.
Alguém me ajude a entender porque o sol nasce e se põe... claro - escuro

NÃO, não me diga nada! Eu já sei de tudo isso... ah.. há ah dois lados...

QUER COMER MEU CORAÇÃO HAMLET?
Juro que não é um relógio, mas o gosto é amargo, está cheio de amarguras.

QUER TIRAR MEU CORAÇÃO INDIANA JONES?
Por favor, tire meu coração e faça o que quiser com ele, se, ainda houver alguma utilidade.

QUER COLOCAR MEU CORAÇÃO NUMA GALERIA DUCHAMP?
Não, é melhor fazer um bazar dele, e que cada visitante leve o que quiser para casa. Enquanto não esgotar o que está exposto não trocarei a exposição.


UTI dos corações

Hoje meu coração foi para UTI, foi mutilado com 3 tiros e 5 facadas nesta tarde. Após ficar 5 hs na mesa de cirurgia repousa no quarto 32 do corredor B. Está a espera de visitas, VÁ VISITÁ-LO!

S.O.S CORAÇÃO
Estou fazendo um pedido solidário, se alguém encontrar uma aorta que suporte um sangue amarelo favor entrar em contato com o elefante cor de rosa na praça central da cidade.

Meu coração na UTI... pi pi pi... ainda sobrevive?
Dizem que chegou a beira da morte, só perceberam que ainda estava vivo porque deu um último suspiro.

Esse ano vou publicar livros:
VOLUME I: O Coração acidentado
VOLUME II: A saida da UTI ( Uma nova visão da vida)
Serão livros de Auto- Ajuda... mas, alguem pode me ajudar?

Meu coração precisa ser virado do avesso, esse lado já foi usado demais.

O dia que perdi meu estômago...
S.O.S: procura-se estômago com as siglas VCF no lado direito
Hoje nao sinto meu estômago trabalhando com a sua função diária de digerir os alimentos por mim consumidos, hoje ele faz hora extra como conselheiro fiel...
AVISOS:
* Onde está seu lado racional?
* Se continuar assim vai explodir
* Pare de chorar, eu não sou orbigado a aguentar sofrimento de outros orgãos,né coração mole?
* Tire já esse nó na garganta, preciso de alimento

Ok, desculpa estômago, vou obedecer, também nao te aguento mais!

Infelizmente hoje você está alojado no meu estômago... procure outro lugar para dormir, vá para a rótula e faça a curva.

Isso tudo é pura química, a ciência exata que explica os círculos viciosos.. então...
- RESPIRE E DIGA TRINTA E TRÊS, TRÊS VEZES...
- 33 33 33.........................
- Muito bem, você tem dois olhos, um nariz e uma boca... nada grave, pode continuar andando...!Ah.. só passe no relojoeiro, a maquinaria já está um pouco gasta...

segunda-feira, 15 de outubro de 2007

Formigas carregadoras

A cabeça que pensa demais, os balões todos preenchidos com falas copiadas de outdoors. E os outros vem e me invadem com seus balões saborosos, recheados de formigas carregadoras. Mas que diabos fazem carregando suas amarguras!!!!? Trabalha e trabalha, carrega e carrega, para ir de encontro a um castelinho de emoções usadas. Quando chega o carregamento vai sendo distribuído em prateleiras, a sessão mais utilizada é a do abandono. Todos os dias 30 milhões de formigas se sentem abandonadas. Umas ficaram presas no pote de biscoito, e depois de comer muito viram que estava apenas com sua dor de barriga. Outras num ataque se feriram e foram deixadas no caminho, uma pata amputada e a vassoura para limpar o caminho. Outras tantas abandonaram a vida militar em busca do pote de ouro no fim do arco íris, mas quando começaram a busca perceberam que precisavam de um manual, e acabaram morrendo empalhadas. O controle remoto um dia pifa, e as formigas um dia param com seus balões vazios.

Sou viciada

Estar observando é engraçado, as relações humanas são mais que calça jeans apertada e boa bunda. Não ser egoísta... complicado não pensar apenas no meu bem-estar, meu prazer... meu cú! Sozinha ou não é em mim que estou pensando, posso estar cheia de pessoas que vai ser no meu rabo que vou estar pensando... triste estar só? Não acho, eu simplesmente não vou me mostrar, mas também não vou me esconder... de mim... tô aqui! Me escondo no meio dos seres inanimados da noite,ninguém conhece o egoísmo de ser humano. Fumo muito durante a noite com as pessoas, mesmo que eu não fume um cigarro se quer quando estou sozinha. Assim como o cigarro se esgota sozinho em si, apenas precisando de um auxilio sendo chupado, tragado e jogado fora. Me auxilio também, da mesma forma que procuro um cigarro para se esgotar, me busco e me procuro para me esgotar. Sou fumaça.
O cigarro por si se encontra integro, há algo que soltará a fumaça para se desintegrar por inteiro. A fumaça, o resíduo da relação que se esgota. Fica o vício, o vício de estar soltando a fumaça de mim. O meu resíduo que busco dia- a- dia para não ser integro. Quero esgotar, preciso esgotar, sou viciada.

domingo, 7 de outubro de 2007

1/4 de...

Meu tio morreu de moto, minha vó não estava lá para proteger sua cabeça. Airton Sena morreu de capacete, nem a vó dele poderia estar lá para salvá-lo. Minha vó teve derrame, o capacete não salvaria sua cabeça. ¼ da cabeça comprometida e metade do corpo paralisado. Seus pés rígidos doem, seus dedos não obedecem, sua mão virou um galho de arvore seco, seus joelhos incham, e não há remédio. ¼ de desespero, ¼ de cinzas, no quarto fechado, no quarto vazio. ¼ queimado. Sem cadeira de rodas arrasta ¼ de seu corpo que limpa o chão por onde passa. Escadas, essas são um problema, os pezinhos sobem um degrau, um degrau, um degrau.
Não consegui dar banana amassada para o meu avô, não consegui. Perdoe-me vô, não consegui. Não conseguia te ver estático fazendo força para mastigar, não agüentei. Alguém me ajuda a dar banana para o meu avô, ele não consegue descascar. A cada fio de cabelo na fronha a certeza de que em breve não estará deitado nessa cama, nem gritando o nome de minha vó. Desculpe vô, não consigo te dar bananas, meu olhos não me ajudam, me dá uma venda que acerto sua boca, sem olhar para sua cara cadavérica. Vô, sem presa para comer, vou chamar alguém para te ajudar, não tente isso sozinho, não posso te ajudar. Dói muito saber que sou tão impotente e fraca.
Você tá branco vô, tem algodão verde no seu nariz, tire o algodão para me escutar. Eu sei que preciso ter juízo. Mas o que adianta ter juízo, se acontecer ¼ de coisa comigo o juízo não poderá deter. Meu corpo vai ser engessado. O skate pode me ajudar a me locomover, chinelos nas mãos e vamos embora, na XV há muitos desses.

Vida de Gado

O bezerro quando nasce é obrigado a ouvir os berros de sua mãe sentindo sua dor. Ele passa por tripas, sangue, placenta, escuridão, a mão do veterinário e os berros. Por que tiraram o pobrezinho dali? Malditas patas que vieram resgatar o filhote do sossego. O cordão umbilical foi cortado já, por favor, sra. Bezerra exercite suas tetas, amanha é você que estará com as tetas inchadas de leite... coalhado! Sua vaca! Já disse que quero leite pasteurizado tipo B B B B... BBB8, lá tem varias vaquinhas tetudas para eu tirar material, cuidado com o câncer! As mamas nem sempre vem puras da colheita. Por isso eu exijo o selo de qualidade. Quero mamas orgânicas para alimentar meus filhinhos famintos no café da manhã.

sábado, 22 de setembro de 2007

Esgrima

No momento jogo esgrima, a luta acontece... eu pareço vencer sempre... mas levo uma espadada no lugar mais sensível, perco a luta. O coração aparece mutilado na tela do cinema, um coração de boi que se desmancha em veias estúpidas, a primeira espadada é a que mais dói, de repente não consigo me mexer. Sou agora Jesus na Pietá, derramada, frágil esperando consolo de algo maior.

Ossos Maleáveis

Estou no mesmo lugar que um dia estive com você, talvez para saber que tenho pernas e que posso caminhar pelos mesmos lugares. O gosto é outro, já não há luz como havia, mas é o mesmo lugar. Não sou uma barata, não vou deixar que o caldo verde derrame. Quero gozar assim como gozei um dia. Quero estar presente mesmo que a ausência exista. Quero concluir um ciclo. Esgotar, preciso esgotar, ver paredes, torná-las úteis. O estar vai continuar. Paredes tortas fazem parte, vou me adequar a elas, nem que eu quebre meus ossos, vou triturá-los. O globo vai continuar rodando, pois os espelhos existem. Tem que refletir!

retroprojetor...

Não passo de um retro-projetor velho e empoeirado que ficou esquecido no canto de um depósito. Agora passam slides outrora felizes que deixaram saudades. O corpo ficou mirrado, seco, desnutrido. Porque não posso apenas botar fogo em tudo e deixar o tempo levar. O frio que me assola agora são cinzas que queimaram a ardente junção dos fluidos. Vou dinamitar as lembranças e com os destroços sorrir, preciso gastar o sorriso. Vou patinar em cima de tudo até chegar a ser finito o caminho trilhado anteriormente.
Os olhos se olharam profundamente antes de se cristalizarem em olhos de bonecas velhas.
Vomitar, quero te vomitar, minha gastrite dói, não posso te agüentar no meu estômago, pesou demais. Preciso de um Engov.
As camas sentem o peso, o cheiro e a união sem se preocupar com o envolvimento alheio. As camas não morrem.
Eu corro, corro para sentir que tenho pulmão e pernas, e não apenas um coração que me constrange.

Festa de São João

A luz que brilha em seus olhos são de um outra fogueira. A festa de São João acabou e os balões destruíram tudo. Mas eu tenho uma pamonha!

Placas.placas.placas

Cansei de placas, elas servem para ditar regras inúteis que pressionam o ser. Quero placas apenas no meu coração para ele obedecer direitinho as regras de transito e não se machucar na primeira curva.

Coração Feijão

Um coração é capaz de diminuir e chegar a um tamanho de um feijão, quando isso acontecer você ficará sem ar e com isso não haverá ar para vibrar suas pregas vocais, silencio. Quando tudo estiver acontecendo respire fundo, até que o coração como uma boneca inflável voltará a ter forma. Ficara lá, parado, cumprindo seu papel de bomba, pode matar. Se o meu coração fosse um relógio o tic tac me faria melhor do que qualquer ar que infle qualquer borracha inútil.
Mais um dia vazio apesar da multidão que me cerca. Nem o sol consegue preencher o lugar que você deixou, a sua sombra ainda está presente no meu corpo. Preciso de asas novas, preciso de um chão de pedrinhas, preciso desviar a dor, quero cortar meus pés, pois minhas costas não conseguem mais carregar o peso das asas quebradas.

Banquete Solitário

Meu melhor companheiro o sol, ele esquenta o corpo que já não consegue irradiar calor próprio. Vou me confessar e esperar que ele vá até você levar minhas veias entupidas de caldo grosso e negro que você deixou em mim, faça uma sopa e engula cada resto meu para sentir o que me fez. Seu corpo vai perder a cor e aos poucos vai se sentir como o resto de comida do banquete principal do gigante solitário de João e o pé de feijão.

Buraco

Minha vida é um eterno rombo, caio no buraco de Alice e passo por figuras estranhas que vão tirando minhas roupas, quando finalmente fico nua começam a me bater com uma raquete de matar mosquitos, sou um inseto frenético tentando fugir das palmadas da mamãe. Pelo menos o homem do saco não estava ai dessa vez, morrer por asfixia é algo realmente sufocante, os poros não são o suficiente para penetrar o ar, melhor ser anfíbio, de asfixia não morro.

Sufocamento

Sinto como se as células não estivessem sendo todas preenchidas. O ar entra pela metade, fica entalado sem conseguir nutrir o resto do corpo. Ainda tenho uma parte viva, o esôfago, o resto está se deteriorando a cada minuto. Acho que preciso de mais alimento, não posso deixar que as bactérias façam um banquete! Deixe que elas comam esterco, não vou ser resíduo. Nem que eu me perfure e faça o ar entrar por um lugar estranho que consiga se adequar para que todas as células se tornem adiposas.
Esquisito agora pensar que quero estar sozinha no meio do baile de máscaras, sou a única que não me cubro e assim olhares ocultos me perseguem. Tiram - me para uma dança, mas o salto não está firme para me segurar, então me jogo em braços pedintes esperando que me segurem sem exitar em me desequilibrar. Os holofotes brilham muito e me cegam, já não sei em que colo estou. Busco insistentemente pelo colo de minha avó, algo confortante que estenda a mão para me enxugar uma lagrima. Eu no vestido de gala me perco em meio aos tecidos que cobrem minhas pernas magras e secas, como velas de sete dias derretidas acesas orando por algo que ainda não sabe. Sou leprosa, o sorriso escorre de minha face feito uma montanha russa desnorteada procurando a partida inicial. Meus dentes caem e não consigo segurar meus lábios, pareço um bocal de lâmpada sem luz. Para rosquear vire para a direita, mas verifique antes se a lâmpada não esta queimada ou se a afiação esta com mal contato. Cuidado para não tomar choque, minha boca ainda pode ser letal.

Esteiras de produção

Os seres humanos são descartáveis, hoje o mundo é instantâneo, as relações se fazem e se desfazem muito rápido. Sinto-me agora um miojo que foi feito e devorado em menos de 5 minutos. É uma pena que demoro para digerir, minha digestão não passa de um processo indignado com o fluxo do universo, enquanto tudo passa eu continuo parada tentando entender porque sou uma mercadoria vencida. Porque passei do prazo de validade se ontem mesmo eu estava em todas as prateleiras das lojas populares? Quero entender quando isso ocorreu, foi com o fordismo? Com o Taylorismo? Se foram eles que fizeram isso eu só lamento porque eles não ficaram aqui para ver seu corpo se transformando em plástico barato. Queria que esses idiotas tivessem ficado aqui para ver como é bom passar em cima de uma esteira onde o primeiro que te colocou um olho não vai te ver pronto quando outro te colocar um coração. Sou uma bonequinha nua de plástico com o cabelo loiro e olhos azuis que em pé abre os olhos e deitada fecha. Me deixe deitada, não quero ver quando serei entregue na mão de uma criança no natal e no ano novo ser jogada fora com outras mil bonequinhas loiras. Permanecerei na lixeira vendo o mundo correr até que me derretam e me façam novamente, agora como um carrinho que o menino nem olhará, o ferro é melhor! Mas é descartável da mesma maneira.
Por favor, alguém me ajude a parar a esteira antes que seja tarde e o mundo se descarte em botões, alavancas e sistemas de produção.

Estreito Caminho

Sem olhar para trás se foi caminhando pelo corredor que o destino traçara, os pés firmes e a cabeça como um balão de gás segurada por um fino e delicado fio, fio delicado que suportava uma carga pesada de... de... gás? É só isso mesmo? O néon cintilando na parede te mostrando a saída, saída do lugar de transição, foi-se a escolha, a partir daqui há só uma via, é seguir o néon que já está desgastado, apagado e melado, o mel que se constitui de perda, promessas e esperanças. Esperança... a ilusória tristeza de algo melhor. E quem ficou antes de entrar no baile de máscaras, e quem ficou sem máscaras? Coitadas... o saco de pão pode servir para se esconder ou para preencher, preencher o vácuo que ficou entre o baile e a noite não construída.
A caminho do baile passa devagar por janelas que gritam adeus, janelas que falam sem sentido, sem querer ver o outro lado, janelas que agora se lacram para não mais enxergar o tamanho do corredor escuro e cheio de limo. O cuidado para não escorregar é grande, a cada passo uma nova organização dos órgãos para segurá-lo, para dar equilíbrio ao novo ser que se faz a cada passo seguinte. E procura apoio, e procura hastes, mas o que achou foi uma alavanca que sem querer puxou e o fez cair num calabouço que o deixa preso e quente como a caixa de fósforos que esqueceu em meu quarto a noite passada.
Acende um por um para conseguir enxergar, risca o primeiro e vê uma parede vermelha com óleo escorrendo formando uma figura bizarra que se aproxima de um corpo de mulher nu com asas quebradas, o fósforo queimou até o final. Risca o segundo, apagou. O terceiro, apagou. O quarto fósforo riscado com cautela durou um pouco mais que três segundos, o suficiente para observar cordas jogadas num canto. O próximo durou até o final e pode observar bem o tamanho da ajuda que viera. Chegou a hora de salvar-se. Apanha a corda ao lado com as mãos suadas e trêmulas e não sabe direito o que fazer com tamanha ajuda dos deuses, grita apavorado por Prometeu “Quero a consciência dos deuses e mais três metros de intestino”. Prometeu ouve seu chamado e traz apenas o intestino, alegando que o fogo se apagou e vai embora. Ele começa a escalada pelas paredes que teimam em enterrá-lo, a mulher de asas quebradas o ajuda tentando voar para levá-lo de volta ao corredor. Muito esparadrapo, cola e band-aid em suas asas as fazem voar de forma que o leva às alturas, em seguida ela cai morta com as asas sangrando.
Ele, ao chegar exausto e faminto come todos os dejetos do intestino. Assim que se sacia, se arrasta para a saída onde uma sirene de ambulância avisa que o fim está próximo. Já está da cor do solado de Hitler, ao chegar ao fim do corredor, a ambulância o leva para o campo de concentração.