sábado, 22 de setembro de 2007

Estreito Caminho

Sem olhar para trás se foi caminhando pelo corredor que o destino traçara, os pés firmes e a cabeça como um balão de gás segurada por um fino e delicado fio, fio delicado que suportava uma carga pesada de... de... gás? É só isso mesmo? O néon cintilando na parede te mostrando a saída, saída do lugar de transição, foi-se a escolha, a partir daqui há só uma via, é seguir o néon que já está desgastado, apagado e melado, o mel que se constitui de perda, promessas e esperanças. Esperança... a ilusória tristeza de algo melhor. E quem ficou antes de entrar no baile de máscaras, e quem ficou sem máscaras? Coitadas... o saco de pão pode servir para se esconder ou para preencher, preencher o vácuo que ficou entre o baile e a noite não construída.
A caminho do baile passa devagar por janelas que gritam adeus, janelas que falam sem sentido, sem querer ver o outro lado, janelas que agora se lacram para não mais enxergar o tamanho do corredor escuro e cheio de limo. O cuidado para não escorregar é grande, a cada passo uma nova organização dos órgãos para segurá-lo, para dar equilíbrio ao novo ser que se faz a cada passo seguinte. E procura apoio, e procura hastes, mas o que achou foi uma alavanca que sem querer puxou e o fez cair num calabouço que o deixa preso e quente como a caixa de fósforos que esqueceu em meu quarto a noite passada.
Acende um por um para conseguir enxergar, risca o primeiro e vê uma parede vermelha com óleo escorrendo formando uma figura bizarra que se aproxima de um corpo de mulher nu com asas quebradas, o fósforo queimou até o final. Risca o segundo, apagou. O terceiro, apagou. O quarto fósforo riscado com cautela durou um pouco mais que três segundos, o suficiente para observar cordas jogadas num canto. O próximo durou até o final e pode observar bem o tamanho da ajuda que viera. Chegou a hora de salvar-se. Apanha a corda ao lado com as mãos suadas e trêmulas e não sabe direito o que fazer com tamanha ajuda dos deuses, grita apavorado por Prometeu “Quero a consciência dos deuses e mais três metros de intestino”. Prometeu ouve seu chamado e traz apenas o intestino, alegando que o fogo se apagou e vai embora. Ele começa a escalada pelas paredes que teimam em enterrá-lo, a mulher de asas quebradas o ajuda tentando voar para levá-lo de volta ao corredor. Muito esparadrapo, cola e band-aid em suas asas as fazem voar de forma que o leva às alturas, em seguida ela cai morta com as asas sangrando.
Ele, ao chegar exausto e faminto come todos os dejetos do intestino. Assim que se sacia, se arrasta para a saída onde uma sirene de ambulância avisa que o fim está próximo. Já está da cor do solado de Hitler, ao chegar ao fim do corredor, a ambulância o leva para o campo de concentração.

Um comentário:

JP disse...

Muito bom o texto baby. Você está bem inspirada ultimamente. Além de escrever muito bem, sempre.

Bjão